Entrevista sobre Desemprego e Saúde Mental para o Bandeirantes Acontece, da Rádio Bandeirantes30/7/2018
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Programa Falando Nisso, da Band Vale, com o tema Desemprego e Depressão O tratamento de um paciente suicida envolve um processo de duas fases. Em primeiro lugar, precisamos investigar todos os fatores de risco e de proteção para garantirmos uma rede de apoio e proteção que possa assegurar a segurança do paciente. Esta é uma premissa básica do processso de intervenção. O segundo passo do tratamento envolve tanto diagnosticar e tratar os possíveis transtornos mentais subjacentes, quanto uma abordagem psicoterápica específica para o comportamento suicida. Primeira Fase Em muitos casos, uma intervenção rápida e decisiva pode impedir que uma pessoa cometa suicídio. Por causa desse aspecto evitável do suicídio, reconhecer e agir no tempo certo e de maneira adequada faz toda diferença. Com base na avaliação clínica e em todas as informações colhidas, se a pessoa estiver realmente em uma crise suicida, a intervenção deve ser construída em várias etapas. O indivíduo não deve ser deixado sozinho. Quando a pessoa é atendida em um pronto socorro ou hospital, tal recomendação é facil de ser levada adiante pelo própria equipe do hospital. Em outras situações, é preciso chamar ajuda rapidamente. Envolva a família ou os amigos, eles devem ser contactados e devem permanecer com o paciente à medida que os arranjos do tratamento são feitos. Remova qualquer coisa que o pessoa possa usar para se ferir ou se matar. Remova objetos pontiagudos ou potencialmente perigosos. Peça ao paciente que disponibilize tudo que pudesse ser usado, como armas, facas ou comprimidos. Proteja o paciente! O paciente suicida deve ser tratado inicialmente em um local seguro, sob supervisão constante. O atendimento hospitalar oferece uma das melhores configurações para situações em que o risco de suicídio é grave. Em situações em que a família tenha sido muito bem orientada e em que a existência de um contexto familiar muito bem estruturado favoreça, o paciente poderia ficar aos cuidados dos familiares. Todos os riscos devem ser cuidadosamente considerados, porém em uma realidade como a do Brasil, onde de a falta de acesso a serviços hospitalares é mais regra do que exceção, não é infrequente precisamos estar preparados para construir esse contexto junto ao paciente e a sua rede de apoio. Um estudo com pacientes suicidas internados constatou que a remoção de pontos de risco (locais onde cordas poderiam ser amarradas, por exemplo) levou a uma redução significativa na taxa de suicídio por enforcamento. Seguindo o mesmo princípio, avaliar outras fontes disponíveis de iniciativas autodestrutivas, como pílulas e armas, é fundamental. Impedir ou diminuir o acesso a meios potencialmente letais funciona! A família deve ser muito bem orientada a respeito. Tentativas de suicídio com medicamentos prescritos representam um dos maiores desafios clínicos. O dilema envolve equilibrar o fato de que, se por um lado, as drogas psicotrópicas aliviam os sintomas de um possível transtorno mental, por outro lado alguns pacientes podem usar os mesmos medicamentos para cometer suicídio. É necessário prestar atenção à quantidade de remédios que se disponibiliza para qualquer paciente potencialmente suicida. Nesses casos, devemos disponibilizar pequenas quantidades de cada vez. Além disso, deve haver alguém que fique responsável por guardar as receitas e os medicamentos até que o risco de suicídio diminua e o próprio paciente possa retomar sua autonomia diante do tratamento. Segunda fase da Intervenção Após a intervenção inicial, que geralmente inclui hospitalização, é essencial que exista um plano de tratamento contínuo. Nesta segunda fase costuma-se abordar a causa subjacente do comportamento autodestrutivo. Se o paciente resolveu se suicidar para escapar de uma dor física, então um programa abrangente de controle da dor deve ser iniciado. Se o paciente está deprimido, a depressão deve ser tratada com medicação e psicoterapia. Se a tentativa de suicídio foi a resposta de um paciente com esquizofrenia para lutar contra alucinações destrutivas e delírios, então esses sintomas devem ser tratados incisivamente. Fazem-se sempre necessários uma avaliação contínua do risco de novas tentativas e um diagnóstico psiquiátrico preciso. Um estudo no estado americano do Colorado utilizou terapia cognitiva em militares que tentaram suicídio ou experimentaram ideação suicida. Esse estudo constatou que o tratamento com terapia cognitiva é eficaz na prevenção de novas tentativas de suicídio. Os dados mostraram que os soldados tratados com um breve protocolo de terapia cognitiva tinham aproximadamente 60% menos chance de tentar o suicídio do que os soldados que não receberam a terapia. Embora o comportamento suicida, atualmente, seja visto como uma entidade fortemente associada `a presença de um transtorno mental, nem todos os portadores de transtorno mental correm esse risco e nem todas as pessoas que exibem comportamento suicida tem um diagnóstico de transtorno mental. Nos países ocidentais, estimas-se que 90% dos suicídios estejam associados a um diagnóstico de transtorno mental. Em países como a China, estima-se que cerca de 30 a 40% dos comportamentos suicidas não estão associados a transtornos mentais. Não basta tratar o transtorno mental subjacente e esperar que o comportamento suicida desapareça. A intervenção não deve prescindir de uma abordagem psicoterápica específica para o comportamento suicida, que melhore a impulsividade, a desesperança, a capacidade de resolver problemas e que mova a ambivalência do paciente no sentido de promover razões para viver. Terapia Farmacológica O tratamento medicamentoso deverá ser direcionado e específico para o transtorno mental de base. Essa estratégia contribui para diminuir a suicidallidade do paciente. Por exemplo, quando um um paciente com uma depressão grave sente desesperança e desamparo, essas percepções, juntamente com outros fatores, levam o indivíduo à ideação e planos suicidas. Uma vez que a segurança da pessoa tenha sido avaliada e assegurada, o uso de um antidepressivo é indicado para diminuir a sensação de desamparo e desespero. Por outro lado, pode ser que se trate de um paciente com esquizofrenia que experimente alucinações de comando autodestrutivas ordenando que essa pessoa cometa suicídio. Uma vez que a segurança do paciente tenha sido estabelecida, um medicamento antipsicótico é indicado. A chave para o diagnóstico é levantar o histórico psiquiátrico do paciente e realizar um exame completo do estado mental. Posvenção Como proceder em casos de suicídio consumado? Os profissionais devem trabalhar com a família e os amigos do paciente, bem como com os outros pacientes que conheciam o falecido. Ao saber da morte de um paciente, recomenda-se que o profissional concentre seus esforços e atenção nesse contexto. Reagende os outros pacientes e, sempre que possível, reuna-se com a família. Os membros da família apreciam esse interesse e cuidado do profissional. É também a oportunidade de expressar seus sentimentos e condolências. Em algumas situações, a família entende que esse desfecho poderia ocorrer. Em outras, eles podem estar feridos e com raiva. O trabalho do profissional é ser responsável e responsivo a tudo isso. Esta intervenção pode exigir mais de uma sessão de atendimento da família. Esteja disponível para os membros da família, ouça-os e compartilhe sua perda. Muitas vezes, outros pacientes conheciam a pessoa falecida. Sem violar a confidencialidade, preste atenção extra a esses pacientes. Isso pode incluir sessões-extra para permitir que expressem suas reações à morte e à perda. Se o paciente que cometeu suicídio foi um paciente internado, é importante convocar uma reunião de grupo e discutir as reações dos outros pacientes. A equipe prestou atendimento também deve ter a oportunidade de discutir seus sentimentos. Finalmente, o profissional deve reservar um tempo para revisar, discutir e refletir sobre o ocorrido. Muitas vezes, procurar um profissional mais experiente para conversar pode ajudar. O profissional também precisa de uma oportunidade para se recuperar e se curar. Uma avaliação clara, precisa e completa em uma consulta psiquiátrica pode fornecer as informações com as quais formulamos a intervenção para o comportamento suicida. Além da importância de se conhecer e pesar os fatores de risco e de proteção, nada substitui uma avaliação que seja centrada no paciente. O profissional precisa ser empático, não-julgador, aberto e saber ouvir e questionar de forma competente para intervir. Quando um profissional habilitado desenvolve um senso visceral de que seu paciente realmente vai cometer suicídio, essa intuição clínica conta e deve ser considerada na intervenção. Elementos-chave na avaliação do Comportamento Suicida: Precisamos identificar e avaliar a presença do que chamamos de ideação suicida, plano suicida e tentativas prévias. Comecemos com algumas definições: Ideação Suicida É preciso determinar se a pessoa tem algum pensamento de tirar a própria vida. Consideramos ideação suicida pensamentos, sonhos, preocupações, imagens mentais e até mesmo alucinações relacionadas ao suicídio. A ideação está altamente ligada ao suicídio consumado. Alguns médicos inexperientes têm dificuldade em fazer essa pergunta. Eles temem que a investigação possa ser invasiva demais ou que possam estimular a pessoa a ter uma ideia de suicídio. Na realidade, os pacientes geralmente consideram o questionamento uma evidência da preocupação do profissional. Uma resposta positiva requer mais investigação. Planos de Suicídio Se a ideação suicida estiver presente, a próxima pergunta deve ser sobre uma eventual existência de planejamento de atos suicidas. Em geral, quanto mais houver um plano mais específico (que indique a método pra tirar a própria vida, o passo apasso, as precauções para não ser descoberto) maior o perigo. Embora ameaças vagas, como a ameaça de cometer suicídio em algum momento no futuro, sejam motivos de preocupação, respostas indicando que a pessoa comprou uma arma, tem munição, fez um testamento e planeja usar a arma são mais perigosas. O plano exige mais perguntas. Se a pessoa visualiza uma morte relacionada a arma, é preciso determinar se ela possui a arma ou se tem acesso a ela. A Relação entre Ideação suicida, Planos e Tentativas Mesmo quando a pessoa nega qualquer ideação ou planejamento atual, é importante questionar sobre tentativas e ideação suicidas no passado, isto é, ao longo da vida do paciente. Um histórico de comportamento suicida no passado pode nos informar sobre o modo como o indivíduo pode vir a responder em situações-limite. Tentativas prévias são consideradas um fator de risco muito importante. Além disso avaliamos o grau de intencionalidade em toda tentativa de suicídio. A variável intencionalidade suicida revela o quanto o indivíduo acreditava realmente que ia morrer naquela tentativa ou o quanto considerava possível outros desfechos (comunicar algo, agir impulsivamente, fugir de uma situação específica). Um inquérito populacional realizado na cidade de Campinas (Botega, 2005) demostra que o que aparece para os médicos em relação ao comportamento suicida das pessoas é apenas a ponta de um iceberg: 1-para cada pessoa que chega ao pronto socorro devido a uma tentativa de suicídio, outras três tentaram suicídio e não chegaram a ser atendidas. 2-Para cada pessoa que é atendida em pronto socorro devido a uma tentativa de suicídio, existem outras cinco planejando fazer o mesmo. 3-Para cada 100 habitantes, existem 17 que tem pensamentos de suicídio que podem evoluir em intensidade e intencionalidade. A conclusão é de que a maioria das pessoas com algum componente do comportamento suicida passa inteiramente despercebida. Propósito ou Motivo Para o Suicídio É importante também determinar o que o paciente acredita que seu suicídio alcançaria. Qual seria a função ou finalidade do suicídio para esta pessoa, especificamente? Além de avaliarmos o quão seriamente a pessoa tem considerado tirar a a própria vida, é preciso saber a motivação. Por exemplo, alguns acreditam que o suicídio proporcionaria um meio para a família ou amigos perceberem seu sofrimento emocional. Outros vêem sua morte como alívio de sua própria dor psíquica. Outros ainda acreditam que a morte deles proporcionaria uma reunião celestial com um ente querido falecido. Qualquer que seja o cenário imaginado, o profissional passa a ter outro indicador da seriedade do planejamento e poderá usar essa informação no momento da intervenção (fase de tratamento). Ao identificar a função de um comportamento, podemos auxiliar o paciente a formular maneiras alternativas para resolver problemas. Potencial para Homicídio Qualquer questão de suicídio também deve ser associada a uma investigação sobre o potencial desse indivíduo de cometer um homicídio antes de se matar. Levando-se em conta que suicídios representam uma forma de agressão dirigida a si-mesmo, que homicídios representam uma agressão voltada para fora e que, portanto, a agressividade está presente nessas dois contextos, a pergunta sobre tendências homicidas deve sempre ser feita. Um estudo que analisou 60 suicídios associados a homicídio no Reino Unido constatou que a maioria das vítimas era cônjuge/parceiros e ou crianças. A maioria dos perpetradores era do sexo masculino (88%) e a maioria das vítimas era do sexo feminino (77%). Poucos perpetradores estiveram em contato recente com serviços de saúde mental antes do incidente (12%) Perguntas Adicionais Outras perguntas devem ser feitas com base na revisão dos fatores de risco. Questionar, por exemplo, se outros membros da família ou amigos se mataram, além de perguntar sobre sintomas de depressão, psicose, delírio e demência, perdas (especialmente recentes) e abuso de substâncias. Sinais e Fatores de risco Para facilitar, resumimos aqui 12 Sinais de Alerta Para um Potencial Real de Suicídio: Pessoas com planos definidos para se matar - sabemos que Indivíduos que pensam ou falam sobre suicídio já estão em risco; no entanto, o risco é muito maior para quem já tem um plano (por exemplo, de obter uma arma e comprar balas) e já fez uma declaração clara sobre se matar. Determinados padrões sistemáticos de comportamento, como se envolver em atividades que indicam que estão deixando a vida - Isso inclui dizer adeus a amigos, fazer um testamento, escrever uma nota de suicídio e fazer um plano de funeral, querer resolver conflitos e desavenças, não deixar pendências Pessoas com uma forte história familiar de suicídio - A história familiar de suicídio é especialmente indicativa de risco de suicídio, particularmente perto do aniversário de morte do ente querido ou quando quando a pessoa atinge a idade em que o ente se suicidou. A presença de uma arma, especialmente arma de fogo. Estar sob a influência de álcool ou outras drogas que alteram o estado mental - O abuso de drogas é especialmente significativo se as drogas forem depressoras do Sistema Nervoso Central. Diante de uma perda grave, imediata e inesperada - Por exemplo, quando uma pessoa é demitida de repente ou deixada por um cônjuge Diante de situações de isolamento e solidão. Se a pessoa tem uma depressão de qualquer tipo. Se o paciente experimenta alucinações de comando - Ouvir vozes ordenando o suicídio é considerado um sinal de ideação suicida grave, que pode levar à morte se não adequadaemnte abordado e tratado. Logo após a alta de uma internação psiquiátrica - Os pacientes correm risco de suicídio após a alta de um hospital psiquiátrico. Este é um momento muito difícil, um momento de transição e estresse. A estrutura, o apoio e a segurança da instituição não estarão mais disponíveis para o paciente e para a família. A apreensão de confrontar-se com a realidade e com mudanças na rotina protegida se traduz em medo, vulnerabilidade e constituem um momento de muita atnção e cuidado. Ansiedade - A ansiedade em todas as suas formas leva ao risco de suicídio; o constante sentimento de pavor e tensão se mostra insuportável para alguns. Sentimentos do terapeuta - Como mencionado anteriormente, independentemente do que o paciente diga ou faça, é muito relevante quando psiquiatra ou psicólogo tem a sensação de que o paciente irá cometer suicídio; tais percepções fazem parte do julgamento clínico, são uma parte importante da avaliação e intervenção do suicídio e devem sempre serem levadas em conta. Sinais e Fatores de Proteção Vários fatores podem servir para proteger contra o suicídio. Esses fatores devem ser identificadoss e cultivados! Envolvimento em redes sociais de amigos, familiares e colegas de trabalho - as redes de apoio dão sentido à vida e fornecem ao indivíduo um grupo de pessoas que podem detectar e combater comportamentos de isolamento e de retraimento. Ter um grande objetivo de longo prazo - um objetivo de longo prazo permite ver pequenos obstáculos e perdas em uma perspectiva diferente. Ter um animal de estimação, como um cão ou gato - animais de estimação precisam de uma presença humana para cuidar deles, o que oferece ao indivíduo uma razão para viver. Eles também fornecem amor incondicional e aceitação. Ter um terapeuta com o qual se sente conectado - isso proporciona uma pessoa que o indivíduo pode chamar quando está em perigo. A chave do tratamento é falar e compartilhar sentimentos e pensamentos, não agir de acordo com eles. Aguardar evento futuro do qual queira participar: a formatura de uma criança, um casamento, as férias, etc. Ter uma forte fé religiosa que não sancione o suicídio e afirme a vida. Ter alguém em sua vida que depende de você. Estar em um relacionamento amoroso ou de parceria. Abster-se de manter armas de fogo na casa, e certificar-se de que não há munição disponível. Certificar-se de que o indivíduo nunca está sozinho - vivendo com alguém (um cônjuge, um amigo, um colega de quarto, etc.) Acesso a linhas diretas de suicídio e crise-CVV. Buscar tratamento eficaz do transtorno psiquiátrico subjacente. Reconhecer que o suicídio representaria uma solução permanente para uma condição ou situação temporária. Ter alguém com quem conversar e que faça se entir acolhido e pertencendo - ter alguém que possa dizer "eu te ouço”. Ter e buscar significado em sua vida - o método de Viktor Fankl de identificar um propósito na vida para sentir-se positivamente e depois imaginar-se envolvido com esse resultado. Em nosso próximo post, vamos falar de estratégias de intervenção diante de situações de risco de suicídio! A cada ano mais de 800.000 pessoas se matam em todo o mundo (uma pessoa cada 45 segundos). Mais de 2000 jovens tiram a própria vida diariamente. Suicídio é a segunda causa mais frequente de morte de pessoas entre 19 e 25 anos. 50% das mortes violentas entre homens e 71% dessas mortes em mulheres decorrem do suicídio . Para cada pessoa que se mata, estima-se que haja de 10 a 20 vezes mais pessoas tentando tirar a própria vida (OMS, 2014). No mundo todo, a taxa de suicidios por 100.000 habitantes foi de 11,4 em 2014. No Brasil foi de 5,8 por 100mil. Enquanto os índices tem diminuído globalmente, no Brasil tem aumentado a quantidade de pessoas que decidem tirar a própria vida (assim como em 28 outros países). Os índices chegaram a piorar 29.5% entre 1980 e 2006. Nosso país ocupa o 8º lugar no raking mundial de número absoluto de pessoas que cometem suicidio anualmente. São 32 mortes por dia! Os percentuais são mais elevados na região Sul e Centro-Oeste. Enquanto a média nacional foi de 5,8 por 100 mil em 2012, estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina Mato Grosso do Sul chegaram a índices de 9,7; 8,2 e 8,5, respectivamente. Em média, o suicidio ocorre de 3 a 4 vezes mais em homens do que em mulheres. O que mais tem alarmado é o aumento, nas últimas duas décadas, dessas mortes na população jovem, entre 20 e 59 anos (30%). MItos e Verdades sobre o suicídio Mito 1: Pessoas que ameaçam ou falam em se matar não se matam de verdade Fato: Tentativas anteriores de suicídio são o principal fator de risco para o suicídio. A cada nova tentativa, o risco de perder o medo e se acostumar com a idéia vai aumentando. Pessoas que falam ou tentam se matar podem estar pedindo ajuda, sofrendo com ansiedade, depressão e desesperança e podem sentir que não há outra opção. Mito 2: A maioria dos suicídios ocorre de repente, sem aviso prévio. Fato: A maioria dos suicídios é precedida por sinais de alerta, verbais ou comportamentais. É claro que existem casos que não exibiram esses sinais de alerta, mas é importante conhecê-los e ficarmos atentos. Alguns sinais: escrever cartas de despedida, se desfazer de bens preciosos, melhoras súbitas e inexplicadas do humor Mito 3: Um suicida está sempre determinado a morrer Verdade: Ao contrário, muitas vezes as pessoas estão ambivalentes, isto é , estão divididas entre viver e morrer. Podem agir impulsivamente e depois se arrependerem depois de tentar. O acesso a suporte emocional na hora certa pode prevenir o suicídio. Mito 4: Uma vez suicida, sempre suicida Fato: O aumento do risco, muitas vezes, depende de uma situação específica e de curto prazo. Os pensamentos de morte podem ir e vir, mas nem por isso são permanentes. Muitas pessoas que já conviveram de perto com esses pensamentos, passaram a viver uma vida longa e a construir uma vida com sentido e passaram a acreditar que a suas vidas valiam a pena serem vividas. Mito 5: Somente pessoas com transtorno mental se tornam suicidas Fato: O comportamento suicida indica uma profunda infelicidade, mas não necessariamente um transtorno mental. Muitas pessoas que convivem com um transtorno mental não apresentam comportamento suicida e nem todas as pessoas que tiram a própria vida tem um transtorno mental Mito 6: Falar sobre suicídio nåo é uma boa idéia pois pode estimualar e encorajar as pessoas a tirarem a própria vida. Fato: Em vez de estimular, falar sobe o suicídio pode ajudar a diminuir o estigma, o preconceito, a culpa, a vergonha. Pode ajudar as pessoas a procurarem ajuda, a acreditarem que podem existir outras opções. É importante não glamurizar o suicídio de pessoas famosas, não dar detalhes mórbidos de como a morte aconteceu, não abordar de forma sensacionalista. Tratar o tema de forma informativa, construtiva, empática e compassiva ajuda a quebrar tabus, estimular o diálogo e a prevenção. Existem vários fatores de risco para o suicídio, desde uma propensão biológica (genética), fatores psicológicos (adversidades na infância) e fatores ambientais atuais. Estudos têm demostrado uma diminuição dos níveis de serotoninia no líquido céfalo-raquidiano de pessoas que se suicidaram. Outros fatores incluem traços impulsivos e agressivos de personalidade, privação e abuso na infância, sentimentos de desamparo, pessimismo, rigidez de pensamento e prejuízo na capacidade de resolver problemas. Como fatores ambientais destacam-se a falta de apoio social e o acesso a meios letais. Quando analisamos a razões frequentes que levam as pessoas a se matar, encontramos diversas temáticas: Cessação da dor existencial Desencanto melancólico Vingança contra conflitos Desejo de reeencontrar um ente falecido Fuga eufórica rumo a uma suposta vida melhor ou prazer Escape de perseguidores Exposição a imortalidade midiática (suicídio online) Controle do momento e do modo da morte Defesa da honra Martírio altruísttico ou redentor Dentre os vários problemas emocionais que podem contribuir para o suicídio, destacam-se a depressão, o abuso de álcool, o transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos de personalidade. Nos países ocidentais, estima-se que até 90% das pessoas que se suicidam estejam acometidas por um transtorno mental. Em países como China e Îndia, estudos relatam que isso ocorre em apenas 60% das pessoas, o que demonstraria que fatores culturais e circunstanciais também podem ter um papel primordial. Existem também fatores que costumam proteger, como crenças religiosas, ter uma familia, ter relacionamentos sólidos, sentir que pertence a uma comunidade, ter planos para o futuro, etc. Suicidologia Edwin Schneidman, considerado o fundador da suicidologia contemporânea cunhou o termo psychache, uma dor psíquica intolerável que levaria o indivíduo a sentir-se preso em si mesmo, sem saida, o que culminaria em suicidio. Mais do que a morte em si, a função do suicidio seria o alívio do desespero e da desesperança. A cessação da consciência seria uma forma de interromper a dor psíquica. Dessa forma, a idéia de suicídio seria uma forma de tentar se tranquilizar. 10 princípios básicos para entender o suicídio: 1-Por meio do suicídio, busca-se a uma solução de uma dor psíquica. 2-Busca-se terminar de vez o fluxo da consciência e interromper o sofrimento. 3-É a sensação de não suportar mais essa dor, percebida como insustentável que motiva o suicídio. 4-Na base do suicídio, estão necessidades psíquicas frustradas, como a necessidade de pertencer, de ter suporte, apoio, compreensão, por exemplo. 5-A falta de esperança no futuro e o desamparo impedem de pensar em outras soluções 6- A maioria das pessoas que tiram a própria vida estão ambivalentes, isto é, divididas entre querer viver e querer morrer. Quando as razões para morrer parecem sobrepujam as razões para viver aumenta a probabilidade de se cometer suicídio. 7-O pensamento fica rígido, estreito, tudo-ou-nada, incapaz de analisar outras possibilidades. 8-Muitas vezes, o suicídio também serve para comunicar algo a outras pessoas. 9-A tendência é tentar escapar , fugir do sofrimento. 10-A sensação é de perda de capacidade de enfrentamento da própria existência. Ao que contrário do que muitas pessoas pensam, dialogar sobre esse assunto não estimula as pessoas a tirarem a própria vida, desde que haja empatia, cuidado, compaixão e que deixemos julgamentos e preconceitos de lado. Algumas perguntas importantes que podem ajudar as pessoas a se se abrirem: Você tem pensado sobre a morte? Você chega a desejar morrer? Gostaria que isso acontecesse a você naturalmente, que Deus lhe levasse ou chega a pensar em maneiras de terminar com sua própria vida? Você chega a planejar? Imagina como isso aconteceria? Com que frequência e intensidade você tem pensado nessas coisas? Sente dificuldade de controlar esse pensamentos? Você tem a impressão que tem começado a se acostumar com esse tipo de pensamento? Além do tratamento psiquiátrico para possíveis transtornos mentais associados, existem diversas formas de psicoterapia efetivas para pessoas que exibem comportamento suicida, como a terapia cognitivo-comportamental e dialético-comportamental. Essas formas de terapia ajudam as pessoas a identificar os gatilhos para os pensamentos de morte a a lidar melhor com essas situações. O paciente, o terapeuta e a família se comprometem a construir juntos um plano de segurança para momentos de muita angustia. Passo-a-passo, por meio de uma relação de confiança, instila-se esperança, abordam-se técnicas de como se distrair dos pensamentos de morte, técnicas de resolução de problemas, técnicas de meditação, como melhorar as habilidades de comunicação, como tolerar melhor o mal-estar, como fugir da rigidez dos pensamentos catastróficos, do pensamento tudo-ou-nada. Gradualmente utilizam-se os próprios valores e necessidades emocionais dos pacientes para seguir na empreitada de cultivar uma vida que valha a pena ser vivida. |
AutorDr. Fábio Fonseca Arquivos
September 2024
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