O tratamento de um paciente suicida envolve um processo de duas fases. Em primeiro lugar, precisamos investigar todos os fatores de risco e de proteção para garantirmos uma rede de apoio e proteção que possa assegurar a segurança do paciente. Esta é uma premissa básica do processso de intervenção. O segundo passo do tratamento envolve tanto diagnosticar e tratar os possíveis transtornos mentais subjacentes, quanto uma abordagem psicoterápica específica para o comportamento suicida.
Primeira Fase
Em muitos casos, uma intervenção rápida e decisiva pode impedir que uma pessoa cometa suicídio. Por causa desse aspecto evitável do suicídio, reconhecer e agir no tempo certo e de maneira adequada faz toda diferença. Com base na avaliação clínica e em todas as informações colhidas, se a pessoa estiver realmente em uma crise suicida, a intervenção deve ser construída em várias etapas.
O indivíduo não deve ser deixado sozinho. Quando a pessoa é atendida em um pronto socorro ou hospital, tal recomendação é facil de ser levada adiante pelo própria equipe do hospital. Em outras situações, é preciso chamar ajuda rapidamente. Envolva a família ou os amigos, eles devem ser contactados e devem permanecer com o paciente à medida que os arranjos do tratamento são feitos.
Remova qualquer coisa que o pessoa possa usar para se ferir ou se matar. Remova objetos pontiagudos ou potencialmente perigosos. Peça ao paciente que disponibilize tudo que pudesse ser usado, como armas, facas ou comprimidos. Proteja o paciente!
O paciente suicida deve ser tratado inicialmente em um local seguro, sob supervisão constante. O atendimento hospitalar oferece uma das melhores configurações para situações em que o risco de suicídio é grave. Em situações em que a família tenha sido muito bem orientada e em que a existência de um contexto familiar muito bem estruturado favoreça, o paciente poderia ficar aos cuidados dos familiares. Todos os riscos devem ser cuidadosamente considerados, porém em uma realidade como a do Brasil, onde de a falta de acesso a serviços hospitalares é mais regra do que exceção, não é infrequente precisamos estar preparados para construir esse contexto junto ao paciente e a sua rede de apoio.
Um estudo com pacientes suicidas internados constatou que a remoção de pontos de risco (locais onde cordas poderiam ser amarradas, por exemplo) levou a uma redução significativa na taxa de suicídio por enforcamento. Seguindo o mesmo princípio, avaliar outras fontes disponíveis de iniciativas autodestrutivas, como pílulas e armas, é fundamental. Impedir ou diminuir o acesso a meios potencialmente letais funciona! A família deve ser muito bem orientada a respeito.
Tentativas de suicídio com medicamentos prescritos representam um dos maiores desafios clínicos. O dilema envolve equilibrar o fato de que, se por um lado, as drogas psicotrópicas aliviam os sintomas de um possível transtorno mental, por outro lado alguns pacientes podem usar os mesmos medicamentos para cometer suicídio. É necessário prestar atenção à quantidade de remédios que se disponibiliza para qualquer paciente potencialmente suicida. Nesses casos, devemos disponibilizar pequenas quantidades de cada vez. Além disso, deve haver alguém que fique responsável por guardar as receitas e os medicamentos até que o risco de suicídio diminua e o próprio paciente possa retomar sua autonomia diante do tratamento.
Segunda fase da Intervenção
Após a intervenção inicial, que geralmente inclui hospitalização, é essencial que exista um plano de tratamento contínuo. Nesta segunda fase costuma-se abordar a causa subjacente do comportamento autodestrutivo. Se o paciente resolveu se suicidar para escapar de uma dor física, então um programa abrangente de controle da dor deve ser iniciado. Se o paciente está deprimido, a depressão deve ser tratada com medicação e psicoterapia. Se a tentativa de suicídio foi a resposta de um paciente com esquizofrenia para lutar contra alucinações destrutivas e delírios, então esses sintomas devem ser tratados incisivamente. Fazem-se sempre necessários uma avaliação contínua do risco de novas tentativas e um diagnóstico psiquiátrico preciso.
Um estudo no estado americano do Colorado utilizou terapia cognitiva em militares que tentaram suicídio ou experimentaram ideação suicida. Esse estudo constatou que o tratamento com terapia cognitiva é eficaz na prevenção de novas tentativas de suicídio. Os dados mostraram que os soldados tratados com um breve protocolo de terapia cognitiva tinham aproximadamente 60% menos chance de tentar o suicídio do que os soldados que não receberam a terapia.
Embora o comportamento suicida, atualmente, seja visto como uma entidade fortemente associada `a presença de um transtorno mental, nem todos os portadores de transtorno mental correm esse risco e nem todas as pessoas que exibem comportamento suicida tem um diagnóstico de transtorno mental. Nos países ocidentais, estimas-se que 90% dos suicídios estejam associados a um diagnóstico de transtorno mental. Em países como a China, estima-se que cerca de 30 a 40% dos comportamentos suicidas não estão associados a transtornos mentais. Não basta tratar o transtorno mental subjacente e esperar que o comportamento suicida desapareça.
A intervenção não deve prescindir de uma abordagem psicoterápica específica para o comportamento suicida, que melhore a impulsividade, a desesperança, a capacidade de resolver problemas e que mova a ambivalência do paciente no sentido de promover razões para viver.
Terapia Farmacológica
O tratamento medicamentoso deverá ser direcionado e específico para o transtorno mental de base. Essa estratégia contribui para diminuir a suicidallidade do paciente. Por exemplo, quando um um paciente com uma depressão grave sente desesperança e desamparo, essas percepções, juntamente com outros fatores, levam o indivíduo à ideação e planos suicidas. Uma vez que a segurança da pessoa tenha sido avaliada e assegurada, o uso de um antidepressivo é indicado para diminuir a sensação de desamparo e desespero.
Por outro lado, pode ser que se trate de um paciente com esquizofrenia que experimente alucinações de comando autodestrutivas ordenando que essa pessoa cometa suicídio. Uma vez que a segurança do paciente tenha sido estabelecida, um medicamento antipsicótico é indicado.
A chave para o diagnóstico é levantar o histórico psiquiátrico do paciente e realizar um exame completo do estado mental.
Posvenção
Como proceder em casos de suicídio consumado?
Os profissionais devem trabalhar com a família e os amigos do paciente, bem como com os outros pacientes que conheciam o falecido.
Ao saber da morte de um paciente, recomenda-se que o profissional concentre seus esforços e atenção nesse contexto. Reagende os outros pacientes e, sempre que possível, reuna-se com a família. Os membros da família apreciam esse interesse e cuidado do profissional. É também a oportunidade de expressar seus sentimentos e condolências. Em algumas situações, a família entende que esse desfecho poderia ocorrer. Em outras, eles podem estar feridos e com raiva. O trabalho do profissional é ser responsável e responsivo a tudo isso. Esta intervenção pode exigir mais de uma sessão de atendimento da família. Esteja disponível para os membros da família, ouça-os e compartilhe sua perda.
Muitas vezes, outros pacientes conheciam a pessoa falecida. Sem violar a confidencialidade, preste atenção extra a esses pacientes. Isso pode incluir sessões-extra para permitir que expressem suas reações à morte e à perda. Se o paciente que cometeu suicídio foi um paciente internado, é importante convocar uma reunião de grupo e discutir as reações dos outros pacientes. A equipe prestou atendimento também deve ter a oportunidade de discutir seus sentimentos.
Finalmente, o profissional deve reservar um tempo para revisar, discutir e refletir sobre o ocorrido. Muitas vezes, procurar um profissional mais experiente para conversar pode ajudar. O profissional também precisa de uma oportunidade para se recuperar e se curar.
Primeira Fase
Em muitos casos, uma intervenção rápida e decisiva pode impedir que uma pessoa cometa suicídio. Por causa desse aspecto evitável do suicídio, reconhecer e agir no tempo certo e de maneira adequada faz toda diferença. Com base na avaliação clínica e em todas as informações colhidas, se a pessoa estiver realmente em uma crise suicida, a intervenção deve ser construída em várias etapas.
O indivíduo não deve ser deixado sozinho. Quando a pessoa é atendida em um pronto socorro ou hospital, tal recomendação é facil de ser levada adiante pelo própria equipe do hospital. Em outras situações, é preciso chamar ajuda rapidamente. Envolva a família ou os amigos, eles devem ser contactados e devem permanecer com o paciente à medida que os arranjos do tratamento são feitos.
Remova qualquer coisa que o pessoa possa usar para se ferir ou se matar. Remova objetos pontiagudos ou potencialmente perigosos. Peça ao paciente que disponibilize tudo que pudesse ser usado, como armas, facas ou comprimidos. Proteja o paciente!
O paciente suicida deve ser tratado inicialmente em um local seguro, sob supervisão constante. O atendimento hospitalar oferece uma das melhores configurações para situações em que o risco de suicídio é grave. Em situações em que a família tenha sido muito bem orientada e em que a existência de um contexto familiar muito bem estruturado favoreça, o paciente poderia ficar aos cuidados dos familiares. Todos os riscos devem ser cuidadosamente considerados, porém em uma realidade como a do Brasil, onde de a falta de acesso a serviços hospitalares é mais regra do que exceção, não é infrequente precisamos estar preparados para construir esse contexto junto ao paciente e a sua rede de apoio.
Um estudo com pacientes suicidas internados constatou que a remoção de pontos de risco (locais onde cordas poderiam ser amarradas, por exemplo) levou a uma redução significativa na taxa de suicídio por enforcamento. Seguindo o mesmo princípio, avaliar outras fontes disponíveis de iniciativas autodestrutivas, como pílulas e armas, é fundamental. Impedir ou diminuir o acesso a meios potencialmente letais funciona! A família deve ser muito bem orientada a respeito.
Tentativas de suicídio com medicamentos prescritos representam um dos maiores desafios clínicos. O dilema envolve equilibrar o fato de que, se por um lado, as drogas psicotrópicas aliviam os sintomas de um possível transtorno mental, por outro lado alguns pacientes podem usar os mesmos medicamentos para cometer suicídio. É necessário prestar atenção à quantidade de remédios que se disponibiliza para qualquer paciente potencialmente suicida. Nesses casos, devemos disponibilizar pequenas quantidades de cada vez. Além disso, deve haver alguém que fique responsável por guardar as receitas e os medicamentos até que o risco de suicídio diminua e o próprio paciente possa retomar sua autonomia diante do tratamento.
Segunda fase da Intervenção
Após a intervenção inicial, que geralmente inclui hospitalização, é essencial que exista um plano de tratamento contínuo. Nesta segunda fase costuma-se abordar a causa subjacente do comportamento autodestrutivo. Se o paciente resolveu se suicidar para escapar de uma dor física, então um programa abrangente de controle da dor deve ser iniciado. Se o paciente está deprimido, a depressão deve ser tratada com medicação e psicoterapia. Se a tentativa de suicídio foi a resposta de um paciente com esquizofrenia para lutar contra alucinações destrutivas e delírios, então esses sintomas devem ser tratados incisivamente. Fazem-se sempre necessários uma avaliação contínua do risco de novas tentativas e um diagnóstico psiquiátrico preciso.
Um estudo no estado americano do Colorado utilizou terapia cognitiva em militares que tentaram suicídio ou experimentaram ideação suicida. Esse estudo constatou que o tratamento com terapia cognitiva é eficaz na prevenção de novas tentativas de suicídio. Os dados mostraram que os soldados tratados com um breve protocolo de terapia cognitiva tinham aproximadamente 60% menos chance de tentar o suicídio do que os soldados que não receberam a terapia.
Embora o comportamento suicida, atualmente, seja visto como uma entidade fortemente associada `a presença de um transtorno mental, nem todos os portadores de transtorno mental correm esse risco e nem todas as pessoas que exibem comportamento suicida tem um diagnóstico de transtorno mental. Nos países ocidentais, estimas-se que 90% dos suicídios estejam associados a um diagnóstico de transtorno mental. Em países como a China, estima-se que cerca de 30 a 40% dos comportamentos suicidas não estão associados a transtornos mentais. Não basta tratar o transtorno mental subjacente e esperar que o comportamento suicida desapareça.
A intervenção não deve prescindir de uma abordagem psicoterápica específica para o comportamento suicida, que melhore a impulsividade, a desesperança, a capacidade de resolver problemas e que mova a ambivalência do paciente no sentido de promover razões para viver.
Terapia Farmacológica
O tratamento medicamentoso deverá ser direcionado e específico para o transtorno mental de base. Essa estratégia contribui para diminuir a suicidallidade do paciente. Por exemplo, quando um um paciente com uma depressão grave sente desesperança e desamparo, essas percepções, juntamente com outros fatores, levam o indivíduo à ideação e planos suicidas. Uma vez que a segurança da pessoa tenha sido avaliada e assegurada, o uso de um antidepressivo é indicado para diminuir a sensação de desamparo e desespero.
Por outro lado, pode ser que se trate de um paciente com esquizofrenia que experimente alucinações de comando autodestrutivas ordenando que essa pessoa cometa suicídio. Uma vez que a segurança do paciente tenha sido estabelecida, um medicamento antipsicótico é indicado.
A chave para o diagnóstico é levantar o histórico psiquiátrico do paciente e realizar um exame completo do estado mental.
Posvenção
Como proceder em casos de suicídio consumado?
Os profissionais devem trabalhar com a família e os amigos do paciente, bem como com os outros pacientes que conheciam o falecido.
Ao saber da morte de um paciente, recomenda-se que o profissional concentre seus esforços e atenção nesse contexto. Reagende os outros pacientes e, sempre que possível, reuna-se com a família. Os membros da família apreciam esse interesse e cuidado do profissional. É também a oportunidade de expressar seus sentimentos e condolências. Em algumas situações, a família entende que esse desfecho poderia ocorrer. Em outras, eles podem estar feridos e com raiva. O trabalho do profissional é ser responsável e responsivo a tudo isso. Esta intervenção pode exigir mais de uma sessão de atendimento da família. Esteja disponível para os membros da família, ouça-os e compartilhe sua perda.
Muitas vezes, outros pacientes conheciam a pessoa falecida. Sem violar a confidencialidade, preste atenção extra a esses pacientes. Isso pode incluir sessões-extra para permitir que expressem suas reações à morte e à perda. Se o paciente que cometeu suicídio foi um paciente internado, é importante convocar uma reunião de grupo e discutir as reações dos outros pacientes. A equipe prestou atendimento também deve ter a oportunidade de discutir seus sentimentos.
Finalmente, o profissional deve reservar um tempo para revisar, discutir e refletir sobre o ocorrido. Muitas vezes, procurar um profissional mais experiente para conversar pode ajudar. O profissional também precisa de uma oportunidade para se recuperar e se curar.