Estima-se que 180 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo inteiro. No Brasil o número pode chegar a aproximadamente 13 milhões. A Organização Mundial de Saúde prevê que a depressão será a principal causa de incapacidade em 2030. A depressão acarreta prejuízos econômicos, incluindo pessoas que não conseguem retornar ao trabalho, conflitos familiares, perdas na qualidade de vida, isolamento social, maior incidência de doenças físicas, podendo levar ao pior dos desfechos: o suicídio.
Embora existam diversas formas de tratamento, como diversas formas de psicoterapia e tratamentos medicamentosos, sabe-se que, mesmo em países desenvolvidos, não há recursos para oferecer acesso ao tratamento a todos os que precisam. Nesse contexto, educar a população quanto ao ciclo de manutenção da depressão e como abordar e ajudar pessoas com depressão torna-se ainda mais importante.
O Ciclo de Manutenção da Depressão:
Pessoas deprimidas isolam-se e desinteressam-se das atividades do seu dia-a-dia. Muitas referem perder a motivação em atividades que gostavam de fazer. Quanto mais elas se isolam e deixam de fazer o que faziam antes ou passam muito tempo inativas, menos energia e mais cansaço elas sentem. Consequentemente, mais aumentam os sentimentos de inutilidade e de culpa, mais aumentam os pensamentos negativos que, por sua vez, pioram a inatividade e isolamento, reforçando o ciclo.
Um erro frequente que cometemos quando queremos ajudar pessoas com depressão é tentar convencê-las a fazer as coisas que faziam antes, exatamente da forma como costumavam fazer quando não estavam deprimidas. Para ilustrar, podemos recorrer à imagem de alguém com um saco de cimento de 50 Kg nas costas e com um óculos cinza que distorce toda a visão da pessoa deprimida e só permite que ela veja os aspectos negativos (fenômeno chamado de atenção seletiva). Se nos imaginarmos nessa situação, fica mais fácil percebermos como pode ser difícil para essa pessoa retomar tudo o que lhe dava prazer e realização.
A ativação comportamental nada mais é do que ajudar o paciente a voltar a fazer atividades que lhe davam prazer e realização em pequeníssimas doses, como se fossem pequenas pílulas de prazer, atividade e realização, em doses tão pequenas que mesmo o saco nas costas e a lente cinza não atrapalhem muito. Essa forma de tratamento é bastante eficaz para depressão de leve a moderada e pode levar a menos recaídas em 2 anos, quando comparado a pessoas que só tomam medicação.
Isso pode ser feito em algumas etapas:
1-Primeiramente ajudamos o paciente a monitorar suas atividades e a perceber o quanto está se isolando e se retraindo. Usamos um quadro de atividades, que se parece com uma agenda semanal
2-Depois ajudamos a relembrar tudo o que fazia antes de ficar deprimido e que trazia algum prazer ou senso de realização. Levamos o paciente a fazer exercícios de imaginação para conseguir se lembrar de seus bons momentos.
3-Em seguida, ajudamos a quebrar essas atividades em pedaços bem pequenos, de modo que a pessoa seja levada a concordar que seria possível levá-los adiante. A idéia é que no lugar de desistir da atividade, podemos pensar em uma pequena parte dela ou em algo mais simples que ainda é possível fazer. Assim o paciente evita um erro de pensamento chamado tudo-ou-nada (ou pensamento dicotômico). Podemos dar vários exemplos de que sempre é possível simplificar uma atividade. Sempre há algo que pode ser feito.
4-Nesse processo ajudamos os pacientes a lidar também com outros pensamentos negativos que surgem como obstáculos e que fazem com que tendam a não acreditar ou a minimizar experiências que pareçam tão insignificantes. Podemos dar exemplos de alguns pensamentos negativos frequentes em pessoas com depressão: filtro negativo, descontando o positivo e visão em túnel).
5-Os pacientes podem dar notas à essas atividades enquanto eles as estão fazendo. Isso permite que eles retirem, aos poucos, os óculos cinzas que só deixam que percebam coisas negativas. Aumentos gradativos das notas vão mostrando para o paciente que ele está melhorando.
Gradualmente, vamos ajudando os pacientes a reverter o ciclo da depressão. Podemos recorrer a imagens de pequenas "pílulas de prazer"e "pílulas de satisfação", que ajudam os pacientes a questionar a idéia de que primeiro precisam voltar a sentir motivação e energia para depois retomar as suas atividades. Assim, eles podem se dar conta que, se retomarem gradualmente a fazer coisas que lhes davam prazer e realização, eles voltarão a sentir energia, motivação e alegria. Tudo isso precisa ser feito com muita paciência, gentileza e cordialidade.
Esses princípios, se adequadamente explicados e simplificados, podem ser de muita utilidade pública. São os princípios de uma das principais e mais efetivas formas de terapia para depressão.